O Movimento Escoteiro no Distrito Federal

O Movimento Escoteiro é um movimento juvenil mundial que promove o crescimento pessoal e forma cidadãos ativos em suas comunidades. Foi fundado em 1907 pelo ex-general britânico Robert Baden-Powell (B-P), que, ao se afastar do exército, selecionou as técnicas militares que julgou mais necessárias para ensinar aos jovens.

Em 1910, o escotismo chegou ao Brasil através de militares brasileiros que voltavam da Europa. No entanto, apenas em 1924 que a UEB (União dos Escoteiros do Brasil) foi oficialmente fundada, com sede no Rio de Janeiro. A organização é sem fins lucrativos e é considerada uma forma de educação não formal, que, por meio de atividades e experiências, proporciona aos jovens a construção de novas habilidades.

Atualmente, o Brasil conta com 83.691 escoteiros, sendo 61 mil jovens e 21 mil adultos voluntários, espalhados por 1.454 Unidades Escoteiras Locais, de acordo com o relatório anual de 2022 dos Escoteiros do Brasil.

A chegada do escotismo no Distrito Federal é um assunto pouco documentado, e as informações disponíveis são principalmente relatos de chefes escoteiros que viveram o movimento na época da construção de Brasília. Um desses chefes é Rubem Süffert, escoteiro desde 1955, que veio para Brasília em 1976, foi Diretor Presidente dos Escoteiros do DF em 1998 e, em 2005, começou a coletar informações sobre o escotismo brasiliense com o objetivo de escrever um livro.

De acordo com os textos escritos por Süffert, o primeiro registro de um grupo escoteiro no DF é de 1959, mesmo que os escoteiros já estivessem presentes na capital desde 1958. O Grupo Escoteiro Bernardo Sayão era sediado no Núcleo Bandeirante, na época chamado de Cidade Livre, e inicialmente estava vinculado ao estado de Goiás, já que Brasília ainda não havia sido inaugurada. O Chefe Guelfo Jorge Poltronieri, dono das memórias escritas por Chefe Rubem, relata que o grupo realizava caminhadas até locais como o Lago Paranoá e Água Mineral.

Placa feita em 2018 com os nomes de todos os grupos escoteiros que existiram em Brasília até a data de confecção do objeto

Acredita-se que os escoteiros chegaram ao DF juntamente com a grande movimentação de pessoas que se mudaram para o centro-oeste do país, principalmente com a transferência da capital para Brasília. Em um documento de 2003, assinado pela Deputada Eliana Pedrosa, durante a 62ª Sessão Extraordinária da Câmara Legislativa, é mencionado o Senhor Assú Guimarães como um dos responsáveis pela fundação do Escotismo em Brasília.

Em conversa com Rosana Lepletier Guimarães, filha de Assú Guimarães, foi revelado que seu pai era funcionário da Procuradoria Geral da República durante o período em que a capital brasileira ainda era o Rio de Janeiro. Ele foi transferido para Brasília, o que fortalece a ideia de que os escoteiros vieram junto com a mudança da capital. Rosana tem uma vaga memória dessa época e recorda apenas de visitar um grupo de escoteiros em um clube de caça chamado Volks Clube de Brasília. Atualmente, o terreno onde o clube se localizava faz parte de um condomínio no Jardim Botânico.

Em 21 de abril de 1960, durante a inauguração de Brasília, o Grupo Escoteiro Bernardo Sayão teve a honra de realizar a guarda de honra na entrada da capela do Palácio da Alvorada para o presidente Juscelino Kubitschek. Após o evento, os escoteiros foram convidados para um churrasco comemorativo na Granja do Torto.

Chefe Rubem, em seus escritos, também menciona que o jornal “Correio Braziliense” mantinha uma coluna regular sobre o movimento escoteiro.

O Grupo Escoteiro (GE) Bernardo Sayão encerrou suas atividades em 1977, porém, desde o final dos anos 50, mais grupos foram surgindo em Brasília. Atualmente, o grupo mais antigo em atividade é o GE Caio Martins 6° DF, fundado em 1966, seguido pelo GE Marechal Rondon 4° DF, fundado dois anos depois.

A Chefe Carmen Barreira ingressou no escotismo aos 15 anos, em 1974, no GE do Ar Salgado Filho. No ano seguinte, ela se juntou ao GE Marechal Rondon, onde relata que, mesmo naquela idade, já era chefe do grupo. Na época, as meninas ainda não podiam se juntar aos meninos para se tornarem escoteiras. O GE Marechal Rondon foi um dos grupos experimentais na década de 70 para a coeducação, um projeto da UEB que buscava integrar mulheres e moças no escotismo.

Chefe Rubem Süffer fala um pouco mais sobre a coeducação. Confira aqui.

Ainda de acordo com as pesquisas de Süffert, somente em 1973, durante reunião ordinária do Conselho Nacional realizada em Juiz de Fora, foi aprovada a proposta da Direção Nacional de estabelecer uma sede em Brasília. O Relatório Nacional da época destaca que “duas comissões foram constituídas em Brasília: uma para estudar o projeto de apoio financeiro do governo ao Escotismo, que não chegou a concluir seus trabalhos; e a segunda para a construção de uma sede em Brasília, para o qual foi obtida uma verba especial do Governo do Distrito Federal”. A Região Escoteira do Distrito Federal obteve, como apoio financeiro, o recurso da Secretaria de Serviços Sociais para a construção de sua sede no Setor de Clubes Sul, onde permanece até os dias atuais. A fundação da sede ocorreu em 31 de agosto de 1974.

Desde então, o escotismo em Brasília tem crescido constantemente e atualmente conta com quase 3 mil associados.

Placa da inauguração da sede em Brasília
A sede, inaugurada em 1974, segue localizada no mesmo lugar e mais ativa do que nunca!
Edições do jornal interno do evento

lll Jamboree Nacional

Dentre tantas atividades que os escoteiros participam, o Jamboree é considerado o acampamento de maior prestígio dentro do escotismo, podendo ocorrer em âmbito nacional ou mundial.

Em 2006, Brasília teve a honra de sediar o III Jamboree Nacional Escoteiro, que aconteceu entre os dias 16 e 20 de junho. O evento reuniu aproximadamente 1200 participantes de diferentes estados. Os participantes acamparam no Parque da Cidade Sarah Kubitschek e, ao longo dessa semana intensa, desfrutaram de diversas atividades, incluindo turismo pela cidade.

Benefícios

Para funcionar, o movimento escoteiro conta com seu próprio método e projeto educativo. O Projeto Educativo Escoteiro é a base do movimento, visando o desenvolvimento integral dos jovens por meio de atividades diversificadas. Com foco nas áreas física, intelectual, social, afetiva, espiritual e de caráter, promove a formação de líderes conscientes e engajados na construção de um mundo melhor.

Manga do uniforme escoteiro com os distintivos

Em entrevista, Yann Krieger (32), Diretor de Métodos Educativos dos Escoteiros do DF, destaca os benefícios significativos que o escotismo proporciona aos participantes: “Acredito que as principais características de uma pessoa que passou pelo movimento escoteiro são a capacidade de trabalhar em equipe, delegar funções, assumir responsabilidades, ter comprometimento e iniciativa. Essas pessoas se tornam altruístas e possuem uma variedade de valores e virtudes.”

Mariana Reis, psicóloga e professora universitária, acrescenta que o escotismo oferece inúmeros benefícios pessoais aos participantes. Ela destaca o desenvolvimento de habilidades sociais, como o trabalho em equipe e a convivência com pessoas de diferentes idades; o cultivo do respeito e da empatia; o estímulo ao desenvolvimento da liderança e do senso de democracia; a capacidade de interagir de maneira positiva, contribuindo para a construção de relacionamentos saudáveis; e o fortalecimento da autoestima e segurança pessoal através da superação de desafios.

Luana Morais, gestora de RH, concorda com os benefícios do escotismo e acredita que seja um diferencial no currículo ao passar por um processo seletivo. “Assim como qualquer experiência extracurricular, de voluntariado, de engajamento dentro da sociedade, ligado a uma causa… Isso ajuda as pessoas a desenvolverem habilidades que são muitas vezes requeridas e atrativas dentro de uma empresa e no momento do processo seletivo”, afirma.

Além dos benefícios pessoais, a organização também oferece vantagens para a sociedade, pois seu principal objetivo é transformar os jovens em cidadãos ativos em suas comunidades, contribuindo assim para a construção de um mundo melhor. Isso envolve o envolvimento comunitário, através do engajamento na cidadania e do reconhecimento de suas responsabilidades pessoais. Os participantes são capacitados a compreender o impacto positivo que podem causar em suas comunidades, sem precisar esperar até se tornarem adultos.

“Vale a pena ser bom, mas o melhor é fazer o bem.”

Robert Baden-Powell

O Relatório dos Escoteiros do DF de 2022 aponta que, ao longo do ano, foram realizadas 21 ações comunitárias. No calendário anual nacional, também estão programados eventos como o MutEco (Mutirão Ecológico) e MutCom (Mutirão Comunitário), que não são contabilizados no relatório de ações comunitárias, mas visam realizar atividades de cunho ecológico e comunitário, respectivamente, voltadas para a comunidade local do grupo escoteiro, conforme afirmado pela atual Diretora Presidente dos Escoteiros do DF, Mônica Saraiva Albuquerque.

Uma dessas 21 ações comunitárias foi realizada pelo Grupo Escoteiro Águas Claras 40° DF, que arrecadou e doou cerca de 400 unidades de fraldas geriátricas para o Lar dos Velhinhos Maria Madalena, localizado no Park Way. Geovanna Marques, captadora de recursos do Lar, relata que além das fraldas, os escoteiros realizaram uma atividade artesanal em conjunto com os idosos, proporcionando também um momento de socialização. “Foi uma atividade bastante proveitosa. Os idosos gostaram bastante… é importante toda visita aqui no lar, pois os idosos sentem falta, né? Então foi ótimo ter a presença deles aqui”, diz ela.

O Grupo Escoteiro Grande Colorado 37° DF, sediado em Sobradinho, está localizado dentro de um condomínio particular do bairro, o Vivendas Bela Vista. Em entrevista, a sub-síndica Silvana Queiroz relata que desde a chegada do grupo ao condomínio, há aproximadamente 3 anos, eles têm trazido benefícios para o local. “Eles conseguem, de alguma forma, sempre envolver a comunidade aqui do condomínio. Por exemplo, na semana passada teve uma palestra sobre a questão das colmeias e das abelhas. Eles trouxeram animais empalhados da UnB, e aí veio com uma palestra e convidaram todos os condôminos a participarem. […] então são atividades diferenciadas, que eles (chefes escoteiros) trazem para os escoteiros e que também atinge toda a comunidade. Todo mundo é convidado a participar. Agrega informação, agrega na socialização”, relatou

Confira pequeno relato do Chefe Rubem Süffert sobre o escotismo:

Ser escoteiro

Uma das questões mais polêmicas do escotismo brasileiro, nos dias de hoje, é o investimento necessário para se tornar escoteiro. Existem custos fixos dentro da organização, como uma taxa anual paga em nível nacional, e uma taxa mensal que pode ou não ser aplicada pelo próprio grupo escoteiro. Além disso, existem investimentos variáveis, como uniforme, acampamentos e atividades externas, que podem ou não estar presentes.

O estudante e chefe Gabriel Valente, de 21 anos, é membro do movimento há 11 anos e acredita que o investimento inicial é alto, principalmente devido ao custo do uniforme. No entanto, ele destaca que os gastos contínuos, como atividades e mensalidades do grupo, não são tão altos, podendo ser baixos ou até mesmo inexistentes.

Gabriel também afirma que é possível para pessoas de baixa renda participarem do escotismo e desfrutarem da experiência, embora enfrentem algumas dificuldades. “Elas podem não ter condições de participar de atividades nacionais ou internacionais, pois os preços são muito elevados atualmente. Mas acredito que o escotismo não deve se basear apenas nisso. Muitos grupos ajudam jovens de baixa renda, isentando-os da taxa anual de registro e até mesmo da inscrição para alguns acampamentos”, diz ele.

A Diretora Presidente dos Escoteiros do DF, Mônica Saraiva, afirma que o Movimento trabalha com a inclusão e que existe uma resolução nacional para a isenção da taxa anual. Ela não tem informações sobre como isso funciona em outras regiões, mas no Distrito Federal, os participantes isentos da taxa de registro também são isentos das taxas das atividades externas. Em relação ao uniforme, ela concorda que o preço é realmente alto, mas há opções mais simples e mais baratas disponíveis. No entanto, ela ressalta que não é obrigatório ter o uniforme para ser escoteiro, e o escotismo vai além disso.

Apesar das considerações, Gabriel concorda que, para aqueles que têm condições, vale a pena ingressar no escotismo. “O escotismo nos faz encarar a realidade, trabalhar em equipe e desenvolver essas habilidades em crianças, adolescentes e até mesmo adultos. Levo muitos ensinamentos do escotismo para minha vida pessoal e acho que o investimento vale muito a pena”, declara ele.

O escotismo vai muito além de um simples hobby. Ele se torna uma poderosa ferramenta de formação, preparando jovens para se tornarem líderes engajados e cidadãos exemplares. Com seus valores e princípios fundamentais, o movimento escoteiro continua a desempenhar um papel importante na vida de milhares de jovens ao redor do país.

Atualmente, o Distrito Federal conta com 2.026 jovens, 882 adultos voluntários e 41 grupos escoteiros ativos. Para fazer parte do Movimento Escoteiro, o primeiro passo é encontrar o grupo mais próximo ou o que melhor se adequa às suas preferências e ir fazer uma atividade. Caso não conheça nenhum grupo em sua cidade ou não saiba onde encontrá-los, basta acessar o site dos Escoteiros do Brasil (escoteiros.org.br) e se juntar a essa fraternidade.

Autora

Maria Elisa Sobreira

Reportagem multimídia feita pela estudante de Comunicação Organizacional da Universidade de Brasília, Maria Elisa Sobreira, sob supervisão da professora Luísa Guimarães para a matéria de Técnicas de Jornalismo Impresso e Online em 4 de julho de 2023.

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