A Co-educação no Brasil
por Rubem Suffert
Texto elaborado pela Região Escoteira do Distrito Federal com base nos documentos oficiais da UEB
Introdução
A proposta de co-educação, oferecida pela União dos Escoteiros do Brasil, integra-se nas finalidades educacionais do Escotismo, diante de uma realidade em que muitas famílias e comunidades não compreendiam a razão de discriminarmos de nosso Movimento, as meninas e moças, muitas delas irmãs de escoteiros.
Histórico
Já em diversas ocasiões, entre 1914 e 1950, várias foram as oportunidades para a participação de moças no Escotismo, desde dezembro de 1914 com o surgimento, em São Paulo, da Associação Brasileira de Escoteiras. Mas, como Seções mistas, praticando a co-educação, ela foi aplicada em caráter experimental pela UEB, desde agosto de 1968 ao ano de 1972, no ramo pioneiro. Até então a presença feminina somente era permitida nas chefias de Alcatéias. Em maio de 1978, começaram a funcionar as duas primeiras Alcatéias Mistas Experimentais, que juntamente com Alcatéias de Lobinhas foram adotadas em 16 Grupos Escoteiros Experimentais, sendo que 4 do Distrito Federal. As dúvidas sobre a viabilidade de aplicação da co-educação no ramo lobinho, assim como nos ramos escoteiro e sênior, foram esclarecidas pelas experiências em desenvolvimento. A aplicação na maioria das Associações Escoteiras da Região Interamericana e Européia, em grande número de países em outras regiões do mundo, também estão a demonstrar a possibilidade desse trabalho, que pode ser implementado na forma da legislação brasileira e escoteira mundial. No ramo pioneiro a co-educação foi oficializada no mês de abril de 1979, sendo iniciada as experiências com escoteiras em maio de 1980 e com guias escoteiras em fevereiro de 1981. A partir de 1982 todos os Grupos Escoteiros da UEB puderam ter lobinhas, desde que atendessem a um conjunto de pré-requisitos.
Em janeiro de 1981 foi realizado no Parque Saint Hilaire pela 1ª vez um Jamboree Panamericano Misto, após a histórica presença de três pioneiras do Brasil no II Jamboree Panamericano, em 1970. Em julho de 1983 foi realizado no Canadá o XV Jamboree Mundial, pela 1ª vez com a presença de moças. A partir de julho de 1983, a co-educação foi oficializada no Brasil no ramo escoteiro, de forma paralela e com chefias do mesmo sexo que os jovens, desde que atendidos os respectivos pré-requisitos, após a análise dos resultados em 13 Grupos Escoteiros Experimentais que possuíam Tropas de Escoteiras. Finalmente, para o ramo sênior a oficialização das Tropas de Guias Escoteiras, em paralelo e com chefias do mesmo sexo que os jovens, ocorreu a partir de outubro de 1984.
Em abril de 1990 foi elaborado por alguns Comissários e depois pela CNOC – Comissão Nacional de Orientação e Coordenação o projeto “Chapada dos Guimarães”, devidamente aprovado pela Direção Nacional para experimentar uma nova etapa da co-educação, com as Tropas e Patrulhas Mistas, bem como chefias mistas nestes dois ramos, sendo esta forma adotada posteriormente pela UEB.
Conceito
O III Seminário Nacional de Programa, realizado em Brasília em setembro de 1981, estabeleceu o seguinte conceito para a co-educação no Escotismo Brasileiro: “A co-educação é um processo pelo qual meninas e meninos, moças e rapazes vivenciam um plano educacional para um melhor e mais harmônico desenvolvimento da personalidade, favorecendo a educação recíproca de uns pelos outros e levando em consideração as realidades locais e pessoais. Isto tendo presente o Propósito e o Método do Escotismo. A co-educação não é, portanto, simplesmente uma questão de reunir crianças e jovens de ambos os sexos.”
Justificativas
A implementação da co-educação no Escotismo Brasileiro tem como principais justificativas:
- propiciar uma formação mais adequada à criança e ao jovem;
- possibilitar uma maior integração da família no Escotismo, possibilitando que todos os filhos possam participar do Grupo Escoteiro;
- ampliar a participação feminina no Movimento;
- contribuir com a redução do preconceito de gênero.
Vantagens de cada modelo de Seção
Numa análise comparativa, resultante da experiência desenvolvida, podemos relacionar as seguintes vantagens de cada alternativa, destacando que a Região Escoteira do Distrito Federal reforça o modelo das Seções Mistas:
Seções Paralelas
- Assegura maior privacidade de cada sexo (aos meninos e meninas, rapazes e moças);
- Evita a divisão do trabalho nos papéis tradicionais (trabalhos manuais e força);
- A atuação da chefia não é tão diversificada como nas Seções Mistas;
- Permite uma progressão na co-educação (que pode resultar em Seções Mistas e depois em Equipes Mistas).
Seções Mistas
- Acompanha outras organizações sociais (escola, igreja, empresas, clubes, etc…);
- Ensina a aceitar a liderança de outro sexo e treina na liderança co-educativa;
- Propicia uma aprendizagem na cooperação e respeito entre os sexos (nas quais o exemplo da chefia é essencial);
- É mais próximo do tipo de trabalho do Clã Pioneiro, que geralmente é misto;
- Reduz a discriminação de meninas e moças, já que não destaca a diferenciação.
Vantagens de cada modelo de Patrulha
Numa análise comparativa, resultante da experiência desenvolvida em vários Grupos Escoteiros, podemos relacionar as seguintes vantagens de cada alternativa:
Equipes Paralelas
- Assegura maior privacidade de cada sexo (aos meninos e meninas, rapazes e moças) em especial nas atividades ao ar livre;
- Evita a divisão dos trabalhos na equipe nos papéis tradicionais (trabalhos manuais e força);
- A atuação da Monitoria é mais simples do que nas Equipes Mistas;
- Permite uma progressão da co-educação (que pode resultar em Equipes Mistas).
Equipes Mistas
- Acompanha a forma de equipes na maioria das outras organizações sociais (escola, igreja, empresas, clubes, etc…);
- Ensina a aceitar a liderança de outro sexo e treina na liderança co-educativa;
- Propiciar uma aprendizagem na cooperação e respeito entre os sexos;
- Reduz ainda mais a discriminação de meninas e moças, já que não destaca essa diferenciação.
Implementação da Co-educação
A adoção de uma Alcateia Mista requer a chefia também mista nessa seção. Após a ideia ter amadurecido entre as crianças, uma reunião do Conselho de Seção com os pais pode debater a decisão adotada e analisar suas vantagens e desvantagens. A decisão é tomada pela Diretoria do Grupo Escoteiro.
A prática recomenda que a transformação de Tropas Escoteiras e Patrulhas em Mistas sejam iniciadas nos Grupos Escoteiros, dispondo de chefias mistas e após o funcionamento por alguns anos, das Alcatéias Mistas, favorecendo que já exista na Unidade Escoteira Local a vivência anterior dessa forma de trabalho.
Da mesma forma, a transformação no ramo sênior, de Tropas de Seniores e de Guias Escoteiras em Tropas Seniores Mistas, bem como a adoção de Patrulhas Seniores Mistas, requer a disponibilidade de chefia mista e deve ser precedida da implantação dessa sistemática na Tropa Escoteira, alguns anos antes.
Para favorecer a implantação das Tropas e Patrulhas Mistas, reuniões podem ser realizadas das chefias das duas Seções e das Cortes de Honra das duas Tropas (masculina e feminina) com freqüência crescente.
E assim, se estabelece um paralelo com o Projeto Castor, iniciado experimentalmente em 1984, conhecido por 69 UELs em todo o Brasil, e hoje aplicado em 10 bem sucedidas colônias.